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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Estados da Alma - 3

Em jovem quis crescer depressa, quero agora envelhecer lentamente.
Ainda ontem menino, já hoje a caminhar em passo acelerado pelo corredor do último semestre do primeiro meio século de existência.
Desde tenra idade que ouvia algumas pessoas mais idosas lá na minha Vila De Penamacor, dizerem:
A idade é o remédio para os males do exagero.
Outras diziam que o tempo é que muda as coisas.
Sempre quis acreditar que assim fosse.
Constato na verdade, que o remédio não é mais a idade, mas o que a idade nos traz:
A fraqueza gerada por diminuição das resistências naturais do organismo evita muito exagero
Creio agora na realidade, somos nós próprios quem tem de mudar as coisas.
Estive há dias a jantar na Capital do Reino em excelente companhia.
Delicioso Jantar.
Após o jantar fiz uma curta, mas adorável passagem pelo Bairro Alto.
As saudades que senti das jantaradas no restaurante Bota Alta. Há muito tempo que por ali não passava.
Como o ambiente está tão diferente. Dezenas de mulheres sós. Havia oferta à patada.
Apeteceu-me voltar aos tempos recentes do antigamente:
Meter-me com dez, para engatar uma.
A custo, contive os meus impulsos. Quem me acompanhava merecia-me esse respeito.
Já passava das duas da manhã quando entrei no carro para me deslocar até aqui ao Litoral Alentejano. Tal como no regresso de Aveiro, de mota, a circular em auto-estrada, a uma velocidade moderada, há tempo para pensar em tudo. Como diz o meu Amigo Bimbo, já com presença confirmada no Pingüinos 2011, em Valladolid:
- É um prazer pensar a andar de mota.
Por mim, de carro ou de mota, preencho a solidão das minhas viagens com pensamentos. Coisas mil me passam pela mente, coisas que, talvez, a melancolia inventa, e que com bonomia me apetece escrever.
É na humilde consciência da minha vulnerabilidade, que reside a minha força.
Sem angústias noto que estou diferente, é e precisamente em viagens, só, em análises introspectivas que tento compreender as alterações sofridas e saber se a elas me consigo adaptar.
Tento perceber as dúvidas que tenho. A idade traz maturidade, ganham-se defesas, alivia-nos de determinadas pressões e obrigações.
Faço… porque quero ou me apetece. Curioso, nem sempre.
Por vezes interrogo-me sobre o lado cognitivo da vida versus lado afectivo da vida. Já me aconteceu, com amigos, com colegas, ao ouvi-los falar de educação dos filhos ficar com a sensação de uma quase certeza, estarem a educar os seus filhos ao contrário.
Sem conhecimentos específicos nesta área, deixo isso para os psicólogos, reparo que alguns os “educam” ansiosos, sem iniciativa, com medo de errar e extremamente dependentes. Outros, e estes sim, “educam-nos” corajosos, com auto confiança, curiosos e com vontade de aprender.
Penso que, a principal responsabilidade dos pais na educação dos filhos é acompanhá-los no processo de se tornarem adultos equilibrados, autónomos, afectuosos e pacíficos.
Cresci, vivi com um pai, que é exemplo puro do verdadeiro anti-pai, num misto destas duas correntes, que me conduziu mesmo ao desenvolvimento de estados gamofóbicos.
Sem quase dar por isso, “levei-me” a uma tranquilidade ilusória de bem-estar, sem planos de família, casamento, etc.
Vivi para uma vida de prazer, os meus prazeres.
Sempre confundi amor com sexo, sexo quando é bom, sei que é óptimo, mas, quando é ruim, mesmo assim é bom. Nas inúmeras e loucas aventuras de prazer vividas, surgiram-me com grande frequência momentos de grande ternura e diversão.
Mais, conheci mulheres que não valorizando o que conquistavam, apenas valorizavam a conquista em si. A algumas me entreguei, ouvindo-lhes dizer, sabendo que mentiam, que me desejavam para sempre. Consumada a conquista, esvaziava-se a paixão.
Naquele Bairro Alto que agora visitei, pareceu-me ver ali muita “Catadora”, disposta a satisfazer esses seus desejos urgentes. Algumas “catavam-me” com dedicação.
Ausente nos meus pensamentos, passei ao lado daquele ambiente festivo.
O meu espírito deixou-se ir a outro encontro em pensamento. Está sempre a pensar nela e no seu desinteresse. Já na auto-estrada do sul, de repente, percebo que o desinteresse dela não é assim tão importante, não merece a desilusão que me tem perturbado.
Não me merece. Animo-me com a decisão, senti-me como se tivesse tirado um peso de cima dos ombros. Serviu-me como um analgésico emocional, e, pensando que o dia seguinte seria um dia melhor, decidi curtir a noite, na capital sadina por uns locais que tão bem conheço, que também, há muito não visitava.
Cheguei a casa perto das dez da matina do dia seguinte ao ter partido, a pensar que a vida a dois terá de ser melhor do que o viver só.
Como viver sozinho é cada vez melhor.
Porque a vida têm de ser vivida, para a semana, Barcelona espera-me.
Ramblas, Los Caracoles, 7 Portes, Monchos`s, Barrio Gótico, Maremagnum, Sagrada Familia, Montjuic, Los Alamos, New Way, Terminus, etc
Zé Morgas
Sonha como se vivesses para sempre. Vive como se fosses morrer hoje”.
James Dean

1 comentário:

  1. Gosto da maneira como escreves: sinceramente, sem preocupação de agradar a mais ninguém. Admirou-me a tua apreciação sobre educação de filhos, bastante perto do que se passa, realmente. Tu, um solteirão! Mas basta estar atento ao que se passa à nossa volta. E tu não és "cego", felizmente! Pena que muitos pais o se demitam das suas responsabilidades. Com graves prejuízos para os filhos e para a sociedade cada vez mais desajustada em temos de viver.
    Também com culpa minha!

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