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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pinguinos 2011

Pela quinta vez estive presente na concentração invernal mais dura e importante da Europa, Pingüinos 2011, em Valladolid e realizadas nos seguintes locais:
- 2005, Boecillo, 21333 inscritos, temperatura -5º
- 2006, Boecillo, 26106 inscritos, temperatura +1º
- 2007, Boecillo, 27141 inscritos, temperatura -3º
- 2008, Simancas, 29812 inscritos, o record absoluto até à data, temperatura -2º
- 2011, Pinar de Puente Duero, mais de 24 mil inscritos, e a temperatura não foi de certeza a mais fria de todas.
Desde há muito com calendário marcado no segundo fim-de-semana de Janeiro, época de grande rudeza climatológica, onde impera o frio, a chuva, o nevoeiro e a neve, mas sem dúvida de grande calor humano, porque todos os “Pingüinos” entendem a Moto, como uma autêntica filosofia de vida, uma maneira diferente de compartilhar e sentir, e impregnam estas viagens, como todas as viagens de Moto, de um contagioso espírito de amizade, que cresce com os anos, como os bons vinhos, que aprendemos a cuidar, quase a mimar, de companheirismo e espectáculo, tudo fruto de uma genuína e sã paixão, a paixão pela Moto.
É esta desmedida paixão Moto turística que me leva para a estrada, e me obriga a enfrentar as duras e sofridas agruras destas viagens, sempre plenas de boas recordações.
Com o passar dos anos e a debilidade natural da memória, não deixarei com certeza, de ter sempre bem presente, o magnífico e deslumbrante espectáculo visto em 2005, no parque frente ao Hotel La Féria, dezenas de Motos completamente cobertas pela neve, confundindo-se com o branco manto de toda a paisagem.
E, o frio de rachar que “papei”, todos “papámos”, dolorosamente sentido, em cima das Motos, de Valladolid até Salamanca. Teimosamente o termómetro não descolava dos 5 º negativos.
O que os pés e as mãos sofreram.
As “molhadas” viagens de 2006 e 2008, com chuva ininterrupta desde Tordesillas até esta bonita terra do Litoral Alentejano, Vila Nova de Santo André.
Sempre são quase seiscentos quilómetros.
Em 2008 “papámos” com três ou quatro impiedosas trombas de água, as bátegas batiam assustadoramente nas viseiras, pareciam autênticas “morteiradas de basucadas”, terrivelmente ensurdecedoras.
Mas se assim não fosse, creio que passaria a faltar algo nestas viagens aos Pingüinos, onde muito já mudou, a começar por nós, pelas Motos e pelo equipamento.
Este ano, sem a presença de três veteranos Duros, Capitão Espargo, Gabi e H. M., alinharam contudo no grupo três estreantes, faltou um quarto, sucumbiu a uma inesperada e indesejada gripe.
Contrariando as previsões anunciadas nos boletins meteorológicos, influenciaram mesmo a decisão do A.G. em não participar, seria também a sua primeira ida aos Pingüinos, fizemos uma viagem limpinha até Valladolid.
De todas, a minha mais confortável viagem.
Valladolid, como sempre continua com um fascínio irresistível. Da crise, também em Espanha por muitos apregoada, não se vislumbraram vestígios.
Bares, adegas, tabernas, restaurantes, tudo à pinha.
O Mulherio, perdoai-me vós, seres superiores da beleza acima da qual nada mais há a dizer, que carinhosamente assim vos trate, sempre impecavelmente produzido.
Por ali o frio não faz mossa, aquelas esculturais pernas que das reduzidas mini-saias se desmarcam… De bradar e fazer estoirar.
Amantes das duas rodas, sem igualar o record absoluto de 2008, pelo que li na imprensa local, só as inscrições nos Pingüinos foram muito além das vinte e quatro mil.
A capacidade hoteleira esgotou no fim-de-semana, com preços a rondar o proibitivo.
Enfim, um fim-de-semana bem passado, e, a certeza de lá voltar novamente.
Domingo, dia de regresso.
À hora marcada, apenas uma ausência, que se alongou por tempo de espera imperdoável.
Divididos entre o arranca ou não arranca sem o faltoso atrasado, mas já com a maioria a pender para a partida, valeu-lhe em sorte o Nosso Grande Comandante, ter trancado a minha mota com a dele, e, decidido já completamente equipado, entrar pela recepção do hotel, descido à garagem, e ter subido pela rampa, vagarosamente a penantes, numa de queimar tempo, dando assim tempo ao “noviço-atrasador”.
Sortudo, o estreante "noviço-atrasador" da XX amarelinha, chegou à saída da garagem ex-aéquo com o Nosso Grande Comandante.
Se tal não têm acontecido o grupo tinha iniciado a viagem de regresso sem a sua companhia.
Em 2008, por um atraso menos significativo, mas como à hora marcada não estavam todos á espera no local combinado, três companheiros em duas Motos, foi-lhes dito aos presentes, pelo Capitão Espargo e pelo H.M., hora combinada é hora sagrada, que fossem ter com o grupo à bomba da Repsol onde todos iríamos atestar as nossas Motos. Não compareceram ao encontro. Há mais que um posto de abastecimento Repsol em Valladolid, não "descobriram" o posto certo. Que azar.
Quis o destino ainda, era a primeira presença de todos os três nos Pingüinos, e por triste ironia, que se tivessem enganado à saída de Valladolid, tomaram o rumo Portugal, via Zamora, foram parar a Bragança.
Foi um baptismo com mais de duzentos quilómetros que o inicialmente previsto
Todos no meu grupo me conhecem pela minha frontalidade, sabendo eu que comportamentos frontais por vezes geram inimizades, e pela minha pontualidade. Detesto ter de fazer alguém esperar por mim, igualmente abomino ter de esperar em demasia por alguém, muito mais quando isso se torna um hábito corriqueiro e que os faltosos quase assumem como um direito adquirido e inalienável.
Na recente viagem feita aos Pirinéus, depois de quatro dias de repetidas esperas, foi avisado o catedrático “atrasador-mor” Quinta Fernandes, que:
- Ou se despachava a tempo do grupo partir à hora combinada, ou passaria a viajar só, partindo à hora que lhe apetecesse.
Percebeu o recado. Na manhã seguinte “aprontou-se” meia hora mais cedo que o habitual madrugador, o Nosso Grande Comandante.
O mesmo foi dito ao adjunto “atrasador-mor” nestas andanças dos incumprimentos horários: o A. Branco. Começou a cumprir, sob pena de ter que começar a viajar só.
Como não há dois “atrasadores-mor” sem três, já tinha-mos o Q. Fernandes no Grupo da Repsol, o A. Branco no Grupo da APS, temos agora e doravante par compor o trio perfeito, o L. Gil no grupo da Petrogal, e com uma característica única que me apraz registar e deveras louvar:
Um eloquente e retórico discurso de lana-caprina, eivado que quer, de uma indiscutível razão justificativa dos atrasos que a todos submeteu.
Ah valente. Há música que não me belisca os tímpanos.
Decidiram entretanto o Lima da seiscentos e o Zé do “enlatado” regressar só na segunda-feira. Por lá se quedaram.
Fizemo-nos à estrada seis companheiros em seis Motas.
Percorridos uns trinta quilómetros brindou-nos São Pedro com uns chuviscos, que aos poucos começaram a engrossar.
A felicidade invadiu-me o espírito. Tinha chegado a hora de testar à chuva os “cobre-punhos” feitos pelo meu amigo estofador de Penamacor, Mineiro de nome próprio.
Fui ter com o Nosso Grande Comandante, que seguia na cabeça do grupo, e fiz-lhe sinal que queria parar. Tomei o comando do grupo e parámos debaixo da primeira ponte que encontrámos.
Contente pela oportunidade de testar mais uma solução, vesti o meu amarelinho, que tão visível é ao longe, os outros companheiros também se equiparam com os fatos de água que levavam, apenas o Prof, resolveu seguir sem parar, queria testar ao limite o novo equipamento estreado.
Retomada a marcha, começa a cascar uma chuvada à séria, que piorou na zona da Serra de Bejar, com a agravante que a temperatura desceu aos dois graus.
O estreante “atrasador” da XX amarelinha, e o novo equipamento XPTO do Prof., mereciam aquele baptismo. Não houve desilusões nas expectativas criadas.
O meu caseirinho arranjo passou com distinção absoluta, na chuva e no frio.
Parámos em Hervás.
Pela primeira vez, e já percorremos largos milhares de quilómetros juntos, ouvi o Nosso Grande Comandante dizer que tinha as mãos frias, que estava muito frio.
Interroguei-me por onde andaria aquele Duro de outrora, que já vi atravessar a Serra do Caramulo, num percurso de Lés a Lés em Moto, numa madrugada nebulosa e fria, de manga curta, sem luvas, aos comandos da sua FJR. Sinais de mudança ?…
Atestámos as motas e aconchegamos os estômagos.
A comida estava excelente.
Com mais uma paragem em Badajoz para atestar as máquinas, chegámos alegres e contentes ao bar do Grupo Motard em V.N. Santo André, pelas 18 horas, já com o breu da noite a cair sobre as viseiras dos capacetes.
Aproveitei o factor escuridão, para alertar o “atrasador-mor da Petrogal”, dos perigos acrescidos que é conduzir as duas rodas com piso molhado, condições de visibilidade reduzida, mais ainda, quando a vista já não acompanha o desejo de ver como tudo via .
Como curiosidade deixo o registo que a gasolina em Espanha estava em média vinte e cinco cêntimos mais barata que em Portugal. À antiga, sempre são cinquenta paus de diferença.
É Obra.
Já com um próximo passeio de Moto marcado para o início de Março até La Alberca, desejo-vos a todos igualmente, com a melhor saudação Motard,
Bons e divertidos Passeios
Boas Curvas
Zé Morgas

3 comentários:

  1. Amigo Zé,é caso para dizer:
    Morra gato morra farto!
    Gozas a vida com prazer e...volúpia da estrada.
    Continua amigo,sempre com cuidado,cumprindo as Regras,sempre a abrir por esse Mundo fora.
    Recebe mais um abraço do:
    Matos Martins

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  2. Aprecio bastante esta leitura da história do dia-a-dia, de acontecimentos passados sob o olhar esgaçado de alguém que quer ver para além do horizonte. Não me satisfaz outra, como essas dos livros empilhados nas livrarias ao monte, quase impossíveis de catalogar e escolher.
    Também me agrada bastante escrever, quer seja da minha vida santa e pacífica sem grandes chatices, quer divagando sobre assuntos que às vezes nem eu próprio sei bem quais são. É apenas escrita, que me entusiasma e eleva o espírito a um patamar fisicamente inalcançável.
    Outra característica que me simboliza, para além do sorriso constante e grande alegria na vida, é minha quase obrigatoriedade pessoal colocar justiça onde Deus ou outra qualquer entidade por momentos desviou o olhar e deixou passar em claro.
    E acima disso outro valor se eleva e emerge do meu eu. A dureza de certas palavras que outrora em diversas situações escutei na passagem por este planeta, as quais não mais são permitidas pela minha lei interna. A lei do meu eu.
    Pergunto então pelo companheirismo e pelo espírito de grupo.
    Pergunto então pela calma e serenidade que permite contemplar as coisas da vida no seu maior esplendor.
    Pergunto então pela falta de sensibilidade nos actos e nas palavras.
    As respostas não as darei, pois não me acho conhecedor da verdade absoluta nem tão pouco detentor de tal direito.
    Dou talvez, em hipótese a uma resposta, uma simples reflexão, até agora abafada pela minha vontade de permanecer discreto e sem conflitos.
    Qual será o sentimento daquele que fica pa trás? Eu bem o conheço, pois por ele passei inúmeras vezes nesta viagem, espectacular por sinal, que fizemos até Valladolid. Descrevo-o como sendo um misto de solidão e de abandono. Nada de muito grave. Talvez a roçar apenas os cinco por cento de cada sentimento. No entanto, posso afirmar com clareza e sem objecções da minha própria consciência que "sabe mal". Sabe tão mal como uma pastilha elástica de mentol previamente mascada.
    Qual será o sentimento daquele que parte sozinho, em busca de algo que ninguém entende. Serão cinco minutos mais de luz solar? Talvez dez ou vinte.
    No início, caso o leitor desta humilde redacção tenha estado atento, referi o conceito de companheirismo. E eis que me surge aqui uma pequena contradição naquilo que tenho guardado em mim como conceito de companhia ou companheirismo. Companheiro é aquele que faz companhia. Companhia nos momentos bons. Companhia nos momentos menos bons e até mesmo nos verdadeiramente maus momentos. Talvez seja uma quebra cronológica na minha memória, que já de si é enfraquecida. Talvez seja apenas a soma de duas partes, da qual o resultado que se vislumbra perante o meu pensamento é simples. Podendo esperar, só não espera quem não quer ou não se preocupa minimamente. Só abandona um companheiro ou desfaz a companhia que lhe prestava num caso de extrema necessidade e não por teimosia ou birra.
    Companheiro em apuros = alerta vermelho = PÁRA TUDO!
    Vai contra aquilo que sou estar a elucidar de forma concreta os nomes dos companheiros envolvidos. Quem esteve sabe.
    Vai contra aquilo que sou estar a criticar alguém e por isso referi, de forma clara e perceptível, que esta é apenas uma reflexão e não um julgamento.
    Vai contra aquilo que sou estar por fora, ver de olhos abertos e imparciais, e não querer mostrar a justiça. Bem sei que a justiça é um conceito variável e transcende o ser humano, pois a imparcialidade absoluta é impossível.
    Tenho o direito de pensar, tal como de reflectir e escrever.
    Não tenho obrigações para com horários em períodos de lazer, achando por bem disfrutar do momento da forma que mais me agradar, mesmo que para isso tenha de ficar sozinho.
    Sou o mais novo e não "birro", que é como quem diz "não faço birras".
    De paz com todos, sem malícia nas minhas palavras.
    Life is Good. No Stress.

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  3. Mais um texto bem estruturado e cheio de uma contagiante alegria de viver: frio, chuva, distâncias enormes a percorrer e o cansaço sem vir, porque o querer seguir sempre em frente é mais forte.
    A grande diferença entre ter sido aluno e ter sido professor, este já para aqui arrumado e tu, Zé, ainda estás numa e já a pensar em outra e mais outra. Para além de um calendário bem estruturado uma memória de fazer inveja, que tanto conta o que aconteceu este ano como aquilo por que se passou há 2 ou 3 anos. Contigo vou conhecendo melhor o Mundo e "passo" por lugares onde nunca porei os pés.
    Obrigado.
    Abraço do teu velho Amigo e Professor.
    Nota: Li o comentário extenso e bem escrito do teu companheiro e deu-me que pensar: vale mais ter razão ou ser feliz?! Eis a questão!!!

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